No dia do meu último aniversário minha sobrinha de vinte e poucos anos ao entregar-me o seu presentinho, comentou:
- Tia, isto aqui é só para lhe dar umas “dorzitas de cabeça”…
Agradecendo a lembrança, repliquei:
- Rica sobrinha, saíste-me uma grande peça!
Pela volumetria, embalagem e peso desconfiei tratar-se de um livro. Rasguei o papel e nasceu na minha mão A Saga de um Pensador, de Augusto Cury.
Recebi vários livros e não foi este o primeiro a que dediquei tempo de leitura. Desconhecia o autor e a sua obra. Até que o apalpei e digeri-o de um só trago.
O seu conteúdo foi tecido de forma bem conseguida, com boa visibilidade, fácil apreensão, tensão controlada: resumindo, uma urdidura bem passajada, com acabamentos mais ou menos rendados aqui e ali, que lhe deram a leveza necessária a uma leitura corrida, centrada e subjugada a dilemas interessantes.
Mas não foi propriamente o enredo utilizado que me sensibilizou e motivou. Ele simplesmente serviu de veículo a uma mensagem subliminar que perpassa da primeira à última página. E aí minha sobrinha acertou nas ditas “enxaquecas”…
Perguntar-me-ão qual foi, então, esse desafio escondido: o apelo a uma reflexão sobre o verdadeiro humanismo, sobre o normal e a loucura, sobre o ser humano único, irrepetível e diferente, sobre a gratidão, o respeito e a aceitação do e pelo outro, sobre a tolerância e o preconceito, sobre a beneficência, a equidade, a injustiça e a solidariedade, sobre a autonomia e a não-maleficência, sobre a compaixão e a humildade, sobre a dor e a morte, sobre a luta pelos ideais de um agir adequado.
É tanto e não é tudo. Mas é o imenso suficiente que impele um livro a transbordar as suas margens. O leitor que sentir esse inundado imperativo será amarrado a um primeiro e solitário debate interior, ginasticando raciocínios, articulando idéias, arquitectando argumentos fundamentados a favor ou contra as atitudes, as acções e a determinação do personagem central: Marco Polo!
Apesar dos azafamados quotidianos e se tiverem apetência por este tipo de especulação, leiam a obra e fortaleçam o labirinto do vosso cérebro!
Já Kant, na Crítica da Razão Pura, dizia:
Duas coisas me enchem o ânimo de admiração e respeito:
o céu estrelado acima de mim e a lei moral que está em mim.