Sentada na falésia, fixa a linha do horizonte. Não se detém por qualquer outro olhar menos distante. Só se interessa por ver longe, para lá das nuvens! Gosta de ter profundidade no olhar.
Nunca olha para o lado ou para trás... A Espanha não lhe importa e ainda menos os Montes Hermínios... O seu desígnio é a inquietação do desconhecido.
Sentada na falésia sonha com partidas e mais partidas. Nada do que deixa lhe impedirá a viagem. Sobrevoando as águas que a intimidam, passa para lá da linha do horizonte.
Não sabe nadar, não sabe surfar, muito menos navegar. Parte pelo olhar.
Dá-se então conta que de tanto tanto desejar, ficou com medo e sobrecarregada de emoção.
Encolhe-se e tiritando, cicía baixinho:
"Eu também não sei o que é o Mar."
"If you want something, don't ask for nothing. If you want nothing, don't ask for something"
Poderão ter sido escritos imensos pensamentos sobre o assunto, havido acesos debates filosóficos acerca disto e, reflectindo as correntes de ideias mais contemporâneas, até existido análises técnicas de perspectiva economicista que tenham suscitado questões e frívolas paixões, quiçá desavenças, tudo, tudo, tudo em nome de uma simples ideia. Ou de estar contra ela. Eu gostava de ser o autor daquelas linhas mas não lhes cheguei a tempo. Foram os Arcade Fire, em "Neighborhood", mas as ideias são mesmo assim: ou as alcançamos primeiro ou deixam de ser nossas e passamos a roer-nos de inveja dos outros. Não muito, na verdade, é só um pouquinho, porque ideias não (nos) faltam. O tempo é que falta numa sociedade em que tudo é a prazo e nasce com data de expiração.
Expira.
Expira.
Expira...
Até ao último murmúrio, à última expiração.
Estive no Coliseu dos Recreios em 1991 para ouvir e ver, exactamente por esta ordem, o que eu considerava a Voz ideal para que se houvesse Céu, cantásse para todos que lá entrássem.
Não me enganei.
O Céu sem a voz de Pavarotti seria como um bolo de aniversário sem velas.
Tenho a certeza que, hoje mesmo, à sua entrada Lá, cantará para si próprio...
Luciano Pavarotti não é de lado nenhum em particular. Nem de Modena, nem de Itália. Não é Europeu, nem Americano.
Luuciano Pavarotti é como o Sol. Brilha em toda a parte e quando brilha, todos ficamos inundados de Luz.
Luciano Pavarotti, "O SOLE MIO", "OCCHI DI FATA", "SERENATA", "L`ELISIR D´AMOR", canta para mim.