África não se aprende em safaris. África é demasiado misteriosa para aventuras de quinze dias.
África é para "degustar" com a calma de um põr-de-sol na Ponta do Ouro, na estação do cacimbo.
África é luz, é negro total e é luz outra vez, porque só a noite não tem luz em África.
África é dos africanos e dos que, africanos se entendem, porque é lá que o seu coração bate...
África é uma "doença" rara que não tem cura nas medicinas convencionais.
África não se aprende em safaris, ama-se para sempre, porque se lhe apreendeu o fascínio, não num hotel de cinco estrelas, mas no desconforto da matope a caminho de outra África a quem chamamamos Home.
MINHA ÁFRICA, MY HOME!
(Excerto de ainda nada...)
As luvas suadas escorregavam nas bolhas de plástico pretas, que encapuçavam as manetes diluídas pelas brumas de vapor bufado em húmidos ritmos; e o avental, lavado pelo suor de uma máquina de aspecto tumular, escondia uma porção considerável de um corpo atarefado. A face escorrida, de meia vida sobrevivida, emoldurava uns óculos de aviador que protegiam os olhos carvão, fonte de alimento da agitação daquela cave sombria. O corpo inerte, deitado na maca por detrás do obreiro, era o de uma jovem campina cujo nome, inscrito no obituário alapado à tampa profanada, havia sido destituído de apelido, pela indevida brutalidade e má qualidade da madeira do cubículo. Pela segunda vez, a jovem havia sido cruelmente arrancada dos progenitores. A data do falecimento não retrocedia mais de dois dias e o motivo da morte não era original, mas sim passional. E nem o resultado do excesso de “amor” merecia mais do que as costas do nosso personagem, que, entretanto, abria a tampa côncava da superfície metálica da máquina e a deixava descansar, enquanto as fiadas de vapor assentavam, dissolvendo-se no soalho gélido. Finalmente, o homem virou-se e começou a despir a mulher aos soluços. As marcas dos dedos do apaixonado lacravam o pescoço esguio e a pele sardenta, sulcada pelo campo, era agora descoberta, pelo outro, de forma abrupta. A pressão descontínua da mão enluvada contra as costas pálidas, como forma a facilitar o desnudar das roupas, desapropriadas à imagem humilde, fez estremecer os seios firmes. Suspendeu o processo momentaneamente. Os olhos fixaram os mamilos. Pareciam entumecidos, obliterando na lascívia da vida a morte ignorada. Não conteve o espasmo, em forma de suspiro. O corpo maduro engrossou, ostentando poros, que dilatados, apuravam a atenção aos sentidos, e o desejo lembrou-lhe que era humano. Pousou o corpo, repondo a sua posição original. Retirou a luva direita e percorreu o seio direito com dois dedos. Sentiu-o vigoroso, qual borracha que readquire fácil e rapidamente a sua forma original. A feminilidade vincava as cuecas de algodão, calcadas pela mão masculina. Puxou-as lentamente, libertando-as das ancas ossudas, e o tufo de pelos arruivados pela luz quente, desabrochou. As coxas abundantes eram percorridas pela pressão cortante do elástico das cuecas. Nua, exposta à sua vergonha ausente, envergonhou o homem que lhe pegou ao colo e a colocou dentro da máquina.
O vapor reanimou, inundou a cave, e a bruma artificial ocultou os pensamentos sórdidos, que se desvaneceram definitivamente quando um balde de madeira, transbordando calda de açúcar, foi erguido pelo homem. Ao lado desse balde, bambus tombaram, desenhando no chão um mikado intencional. A temperatura do vaso metálico, para onde a calda fora vertida, aumentava de forma proporcional ao odor enjoativo. Um punhado de tubos translúcidos aguardava que a manete correcta fosse accionada no momento devido, para servirem de veículo à alma aprisionada, absolvendo-a da carne transpirada, sugando-a e cuspindo-a na lava doce. A redenção adocicada era mexida e remexida com uma colher de pau industrial e permanecia no vaso metálico, que entretanto girava continuamente sobre o seu próprio eixo, durante sete dias. Ao oitavo dia, era ouvir os pregões dos vendedores:
“Algodão doce...Algodão docinho”...
E, de facto, não se ouvira falar de algodão doce tão energético, de sabor tão refinado e de odor tão plácido e puro. Mesmo quem não gostasse de doces em geral ou quem gostasse, mas não particularmente de algodão doce, rendia-se aos prazeres da gula desenfreada.
Agosto inicia hoje, a sua derradeira caminhada em direcçâo ao fim! O tempo quente fez-se sentir com intermitências e rebeldias. A segunda quinzena só serve para sabermos que a primeira já terminou...
Quinze mais quinze e temos um mês! Tanto alvoroço com o Verâo e ele a rir-se de tanta expectativa! Passou num àpice!
No dia trinta quantos nâo lamentarâo o dinheiro gasto que lhes fará falta?
Por onde andarâo os tempos felizes, aqueles que nos faziam ter vontade de voltarmos para casa, para a escola, ou para o trabalho?
As férias de agora, quase parecem uma obrigaçâo. À inevitável pergunta :
-Que fizeste nestas férias, seria apoucador responder que se não fez nada, se nâo saíu da rua onde se mora o ano inteiro... se aproveitou para descansar, ler, respirar, caminhar de braço dado, ou abraçado, com a pessoa que amamos
inspirando e expirando com prazer o ar da manhã. Gargalhámos com e sem motivo e de importante, mesmo, só o esforço para viver tempos de verdade e Paz.
Mas quem se importa com a verdade se nâo tem espectáculo?
As coisas simples são as mais importantes, mas o tempo devora-as sem compaixâo.
Só a autenticidade serve um espirito liberto. O resto, sâo cenários e teatro...
Hoje nasceu um poeta!
Seu nome: - Mário Cesariny!
Ele mesmo, o Poeta do tempo, da provocaçâo, da economia da palavra.
Nâo que a palavra lhe custásse muito!
Mas porque, como convém aos grandes Poetas, há que respeitá-las... a elas as Palavras.
Nem uma a mais, nem uma a menos.
Gosto matemático.
Exactidâo.
Marca no tempo.
Eternidade.